Quando o agricultor familiar Valdir
Manuel de Oliveira resolveu fazer, em 2007, a transição agroecológica no
sítio Vida Verde, no Núcleo Rural Boa Esperança, a 49 quilômetros de
Brasília (DF), ele sofreu preconceito. Agricultores vizinhos, descrentes
de que a mudança renderia produtividade, zombaram da iniciativa do
produtor. Até que Valdir procurou o acompanhamento da Emater-DF e fez o
curso de transição agroecológica.
Hoje, ele é referência e escola a
campo aberto para outros produtores. Valdir também é um reflexo do atual
cenário de produção orgânica no Brasil.
Pensando em agricultores como Valdir, a
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) levantou
indicadores ambientais e financeiros para quem pretende fazer a
transição agroecológica. A pesquisa faz parte do projeto Transição
Produtiva e Serviços Ambientais, que teve início em 2013, e é feita em
conjunto com agricultores familiares e médios produtores dos quatro
biomas brasileiros: Amazônia, Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica.
“A ideia é produzir material tanto
científico e de orientação, mas toda a concepção do projeto, e regras do
desenho, foram feitas em áreas de produtores. Da mesma forma, a
construção do conhecimento é feita com eles. Os agricultores são
protagonistas neste processo, inclusive porque podem replicar esse
conhecimento em associações, cooperativas, escolas e por aí vai”,
explica o coordenador geral do projeto e coordenador da Embrapa
Cerrados, Luciano Mattos.
A Secretaria Especial de Agricultura
Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead) faz parte do Conselho de
Planejamento Estratégico deste projeto da Embrapa, que será divulgado ao
público até o final deste ano. “Participamos deste conselho no sentido
de levar sugestões para o desenvolvimento dos projetos e,
principalmente, acompanhando a socialização dos resultados obtidos para
que a gente consiga também incorporar estes resultados nas políticas
públicas da Secretaria para o fomento à transição agroecológica da
agricultura familiar”, destaca o coordenador-geral de Agroecologia e
Produção Sustentável, Marco Pavarino.
Desafios do início
Para Seu Valdir, uma peça fundamental
para a mudança foi a assistência da Emater. Quem o acompanhou de perto
foi o extensionista Aécio Prado, da Emater-DF. “O agricultor sofre nesta
transição. Ele muda totalmente o manejo da propriedade e não pode
aplicar um insumo químico. Às vezes a mão de obra aumenta, ele tem que
fazer capinas manuais. Então, os colegas do Valdir, que produzem de
forma convencional, olhavam-no de forma atravessada, achando que ele
iria falir, porque Valdir era um produtor convencional forte”, recorda
Aécio Prado.
No manejo das unidades de produção
agroecológicas e orgânicas, os agricultores familiares se valem do
enfoque sistêmico, privilegiando a conservação ambiental, a
biodiversidade, os ciclos biológicos e a qualidade de vida. Nele, os
produtos agroecológicos e orgânicos são cultivados como um sistema vivo e
complexo, em que coexistem vários tipos de plantas, animais,
microorganismos e minerais.
No caso do Seu Valdir, o sistema
agroflorestal do sítio Vida Verde tem madeira, fruta e café. Enquanto na
horta, o agricultor cultiva tubérculos (cenoura, inhame, batata,
mandioca) e hortaliças (couve, repolho, rúcula e alface) para consumo
próprio e venda em feiras e pelo Programa de Aquisição de Alimentos
(PAA).
Dados sobre o Cerrado, no projeto
Transição Produtiva e Serviços Ambientais, indicam que os sistemas
agroflorestais sucessionais (quando ao longo do ano há uma rotação de
espécies cultivadas) promovem muitos ganhos ao solo. Tanto em termos de
fertilidade e de capacidade de retenção de água, quanto no aumento de
produtividade.
O grande problema, no entanto, ainda é o
custo de implantação deste sistema. Como ele une hortaliças, frutas,
café e madeira, ele consegue ser quitado em até três meses, por causa da
colheita de hortaliças. No entanto, para isso, haverá um custo maior
com mão de obra. Caso não sejam cultivadas hortaliças, outros cultivos
como o de frutas levam mais tempo e por isso o agricultor pode levar de
cinco a oito anos para pagar o investimento na transição agroecológica.
“Temos que pensar em um redesenho do
sistema. Tirar uma espécie, colocar outra, mudar o espaçamento... Buscar
soluções para diminuir o custo de implantação para que o produtor não
fique inseguro, nem quebre”, alerta o pesquisador Luciano Mattos.
Apoio - PRONAF AGROECOLOGIA
As linhas de financiamento do Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar (Pronaf) para sistemas de produção de base
agroecológica ou orgânicos têm um papel importante para viabilizar um
modelo de produção mais sustentável pela agricultura familiar. “Neste
sentido, a linha Pronaf Agroecologia é uma conquista dos agricultores
familiares e dos produtores orgânicos. Essa linha possibilita o
financiamento de atividades voltadas para a transição agroecológica e
também para a produção orgânica pelos agricultores familiares”.
A linha de crédito de investimento para
agroecologia (Pronaf Agroecologia) é concedida a agricultores familiares
que possuem a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) ativa e que
apresentarem projeto técnico para sistemas de produção de base
agroecológica, ou em transição para sistemas de base agroecológica.
O financiamento do Pronaf Agroecologia
pode incluir os custos relativos à implantação e manutenção do
empreendimento em até 35% do valor financiado, para linha de
investimento. O limite por beneficiário é de até R$ 150 mil a cada ano
agrícola, podendo chegar até R$ 300 mil, para atividades de
suinocultura, avicultura e fruticultura.
O prazo de reembolso é de até 10 anos,
incluídos até três anos de carência. Os encargos financeiros são de 2,5%
ao ano. O projeto deve, obrigatoriamente, ser assinado por um técnico
credenciado no agente financeiro. O técnico que elabora o projeto deve
prestar a assistência técnica pelo período necessário para a sua
completa e efetiva implantação.
Fonte: Pprtal do Agronegócio. Confira a matéria na íntegra; acessando o link >>> http://www.portaldoagronegocio.com.br/noticia/transicao-agroecologica-uma-mudanca-possivel-e-produtiva-156080
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