sexta-feira, 24 de abril de 2015

Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (Pais)

Os Territórios de Segurança Alimentar e Desenvolvimento Local (Consad) são regiões brasileiras que possuem os mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). Para fortalecer e ampliar as ações de segurança alimentar nesses territórios, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) investe nas unidades de Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (Pais).

A produção é agroecológica porque dispensa o uso de ações danosas ao meio ambiente, como o emprego de agrotóxicos, queimadas e desmatamentos. É integrada porque alia a criação de animais com a produção vegetal e ainda utiliza insumos da propriedade em todo o processo produtivo. É sustentável porque preserva a qualidade do solo e das fontes de água, incentiva a associação de produtores e aponta novos canais de comercialização dos produtos, permitindo boas colheitas.

O modelo de tecnologia social Pais possibilita o cultivo de alimentos mais saudáveis tanto para o consumo próprio quanto para a comercialização. A unidade conta com um galinheiro na área central, três canteiros de hortaliças localizados em volta do galinheiro, além de área para pastagem. Dessa forma, a família recebe um kit contendo todo o material, insumo e os animais necessários para a construção da unidade e também para iniciar a produção.

A construção das unidades Pais é realizada por meio de convênios firmados com os governos estaduais por meio de edital público. Desde 2008, foram firmados 14 convênios com diferentes estados totalizando 2.305 unidades Pais implantadas, contemplando 100% dos municípios nos 22 territórios Consad. Cada unidade atende uma família, escolhida por uma comissão formada pelas equipes técnicas dos estados, dos municípios e dos Consads.

A tecnologia social Pais pode ser utilizada por agricultores familiares; acampados e pré-assentados da Reforma Agrária; comunidades quilombolas; entre outros. Os agricultores selecionados precisam fazer um curso de capacitação com duração de quatro dias desenvolvido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Além dos cursos, o Sebrae presta consultorias em gestão, em comercialização e tecnológica.

Fonte:  http://www.mds.gov.br/segurancaalimentar/desenvolvimentoterritorial/consad/producao-agroecologica-integrada-e-sustentavel-pais

quinta-feira, 23 de abril de 2015

A Inovação Agroecológica para a valorização da agrobiodiversidade e autonomia da agricultura familiar

A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO), instituída em agosto de 2012, firmou o compromisso do governo federal em "integrar, articular e adequar políticas, programas e ações indutores da transição agroecológica, da produção orgânica e de base agroecológica, como contribuição para o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida da população, por meio do uso sustentável dos recursos naturais e da oferta e consumo de alimentos saudáveis".

A importância da Agroecologia para a alimentação humana tem sido reconhecida inclusive pela ONU. Olivier De Schutter, relator especial da ONU sobre direito à alimentação, atesta como a Agroecologia contribui para tornar efetivo o direito humano à alimentação adequada em suas diferentes dimensões: disponibilidade, acessibilidade, adequação, sustentabilidade e participação social.
Apesar destas constatações, percebe-se ainda a existência de pelo menos duas concepções sobre padrões de estruturação da atividade agrícola no debate sobre a sua produção mundial. A primeira delas, calcada no modelo de agricultura empresarial, estruturado pela elevada dependência em relação aos insumos químicos, mecanização intensiva e o uso insustentável dos recursos naturais, em processos de industrialização da agricultura e, principalmente, do maior controle sobre as bases genéticas de várias culturas alimentares, a partir dos híbridos e, mais recentemente, com as variedades transgênicas.
De outro lado, a Agroecologia e produção orgânica que, em suas diferentes expressões no conjunto das agriculturas sustentáveis, emergem ou reaparecem (a agroecologia também se ancora nos conhecimentos dos povos e comunidades tradicionais) como outra perspectiva em relação ao modelo anteriormente citado, valorizando e potencializando o trabalho familiar, as relações de gênero e geração, a utilização e autoprodução de insumos naturais, as tecnologias e práticas orgânicas, a conservação da agrobiodiversidade, a valorização dos conhecimentos e saberes dos agricultores, povos indígenas e comunidades tradicionais, dentre outros elementos. Estes fazem com que o enfoque agroecológico alcance ressonância junto a amplos segmentos da sociedade e movimentos sociais, institucionalizando-se como política pública.
Nessa aparente polarização, no entanto, observa-se o aparecimento de leituras/concepções que revelam uma tentativa crescente de apropriação do discurso ambiental acerca da sustentabilidade, amparado pelos grandes alertas ao meio ambiente como as teses "neomalthusianas" em torno das consequências do acelerado crescimento populacional, ou pelas alterações climáticas já percebidas em diversas regiões do Planeta, além dos desmatamentos, escassez hídrica e perdas dos solos agrícolas para tentar harmonizar a incompatibilidade inerente aos distintos estilos de desenvolvimento.
Tais leituras buscam a construção de outra racionalidade fundamentada prioritariamente no mercado, como se todas as ações que favorecessem ou impulsionassem as dinâmicas da Natureza, pudessem ser consideradas "agroecológicas", mesmo quando contrariam a racionalidade e a prática dos agricultores familiares que tem na autonomia, em suas diferentes vertentes, sua principal conquista. Nessa perspectiva, o status de "ecológico" ou "agroecológico" estaria, de um lado, estruturado por uma "leitura econômica dos processos da Natureza", ou dos benefícios/serviços ambientais por eles proporcionados, ao ‘sabor' da chamada Economia Ecológica. Ao mesmo tempo, tal leitura promove a manutenção do estilo de agricultura que estimula a dependência externa, especialmente de insumos químicos (fertilizantes e agrotóxicos) e organismos geneticamente modificados.
Neste contexto, a Agroecologia não é apenas um estilo de agricultura que tem como princípio a não utilização de agrotóxicos ou outros insumos químicos. A Agroecologia é uma ciência que pretende contribuir para o manejo de agroecossistemas sustentáveis numa perspectiva de análise multidimensional (econômica, social, ambiental, cultural, política e ética) e constitui-se numa matriz disciplinar integradora de saberes, conhecimentos e experiências. Dessa forma o que está em jogo não é a simples decisão pelas melhores ou piores práticas agrícolas, tampouco a valorização de indicadores que meçam exclusivamente a produtividade.
Estes caminhos, aqui superficialmente destacados, além de evidenciarem a existência de diferentes matrizes de pensamento em relação à produção agrícola, apontam para a importância da compreensão sobre as formas como a economia neoclássica se apropria e se molda aos processos produtivos para fortalecer as dinâmicas do capital na agricultura. O mais importante é que isso ocorre, geralmente, de modo bem distante das perspectivas e reais interesses da grande maioria dos agricultores familiares e comunidades tradicionais, maiores responsáveis pela produção de alimentos no Brasil e no mundo.
Autores:
Fernando Fleury Curado
Edson Diogo Tavares
Amaury da Silva dos Santos
Pesquisadores do Núcleo de Agroecologia da Embrapa Tabuleiros Costeiro
 
Fonte:  http://www.agroecologia.org.br/index.php/noticias/noticias-para-o-boletim/817-agriculturas-sustentaveis-a-inovacao-agroecologica-para-a-valorizacao-da-agrobiodiversidade-e-autonomia-da-agricultura-familiar

terça-feira, 21 de abril de 2015

Manejo de pragas e doenças - Agricultura Sustentável

                 As pragas e doenças não aparecem por acaso, pois os insetos fazem parte da natureza. O desequílibrio causado, em geral pela ação do homem com a prática da queimada, monocultura, uso de agrotóxicos, fez com que alguns desses insetos se multiplicassem rapidamente. foi quebrada a cadeia de inter-relação animais/ animais e animais/ plantas.
               Segundo Pinheiro (1998), estudos mostram que o aumento de consumo de agrotóxicos faz com que cada ano apareçam 22 novas espécies de pragas.
              Aplicar inseticidas e fungicidas naturais é uma maneira de ajudar a evitar maiores danos. Mas esta não deve ser a única alternativa. As aplicações devem estar relacionadas com o manejo do solo e das culturas, fazendo-se uma boa adubação orgânica, mantendo-se uma cobertura morta, realizando-se a rotação e o consorciamento de culturas. Assim teremos, além de plantas mais fortes, as condições necessárias para um melhor desenvolvimento dos inimigos naturais sem necessidade do uso de fungicidas.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

15 DE ABRIL - DIA NACIONAL DE CONSERVÇÃO DO SOLO

Uso sustentável contribui para a preservação do meio ambiente e ainda aumenta a renda do agricultor
Aprofundar os debates sobre a importância do solo como um dos fatores básicos para a produção agropecuária. Este é o principal intuito do Dia Nacional da Conservação do Solo, comemorado nesta quarta-feira, 15 de abril. A data foi instituída por meio da Lei nº 7.876, de 1989, por iniciativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para conscientizar o produtor rural e a população em geral de que o uso e manejo do solo devem ser feitos de forma sustentável. solo deve ter o seu uso e manejo de forma sustentável.
De acordo com o secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Mapa, Caio Rocha, o solo é fundamental para a manutenção da população humana na terra, por ser a principal matriz de produção de alimentos e fibras. “Esse motivo mostra a importância desse dia, no qual aproveitamos para discutir e aprofundar temas e técnicas que são essenciais para o bom uso e a conservação do solo”, disse.
O solo é componente fundamental do ecossistema terrestre e funciona como grande reservatório de água. O processo de evaporação dessa água, seja diretamente ou via transpiração das plantas, proporciona, além da produção de alimentos e de fibras, um clima favorável à manutenção de nichos ecológicos específicos que abrigam diversas espécies de plantas e animais. Essas espécies têm funções específicas na manutenção da estabilidade de todo o ecossistema.
Por isso, a degradação do solo causa inúmeras consequências negativas para o meio ambiente, como a diminuição da matriz de produção, a redução da qualidade e da quantidade hídrica nos reservatórios e cursos d’água, o aumento da variabilidade climática nas áreas de cultivo, a destruição de nichos ecológicos terrestres e aquáticos e da biodiversidade. Para conservar o solo e prevenir o processo erosivo, é necessária a adoção de um planejamento de uso e manejo sustentáveis desse recurso natural, que consiste na aplicação de técnicas de produção.
O Plano ABC é um dos programas do Ministério da Agricultura que visa a reduzir a emissão de gás carbônico na agricultura, por meio de tecnologias sustentáveis como o Plantio Direto, a integração Lavoura-Pecuária-Floresta, a Recuperação de Áreas Degradadas e as Florestas Plantadas, que são importantes para a conservação do solo e preservação do meio ambiente. “Essas técnicas, quando utilizadas de forma efetiva na agricultura, proporcionam maior renda ao agricultor e ainda protegem o solo, evitando o carreamento de terra pelas águas das chuvas e o assoreamento dos corpos d´água”, afirmou Rocha.


FONTE:http://www.agricultura.gov.br/comunicacao/noticias/2015/04/hoje-e-o-dia-nacional-de-conservacao-do-solo

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Sistema Integrado de Produção Agroecológica

 A FAZENDINHA AGROECOLÓGICA KM 47

Implantado em 1993, o Sistema Integrado de Produção Agroecológica (SIPA), mais conhecido como Fazendinha Agroecológica Km 47, ocupa uma área de aproximadamente 70 hectares próximo à sede da Embrapa Agrobiologia, em Seropédica/RJ. É uma iniciativa conjunta da Embrapa Agrobiologia, da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio) e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
 
A partir da integração das atividades de produção animal e vegetal, o manejo na Fazendinha prioriza a reciclagem de nutrientes, que é favorecida pelo uso de estercos e compostos orgânicos, e o uso de desenhos de sistemas agrícolas diversificados, que envolvem rotações e consórcios culturais. A adubação verde também é uma prática rotineira nos sistemas de produção locais, com ênfase na utilização de espécies vegetais da família das leguminosas, que contribuem para o fornecimento de nitrogênio por meio do processo natural de fixação biológica. Além disso, a pecuária leiteira existente no espaço é manejada baseada no uso de animais mestiços e no emprego da homeopatia veterinária e de princípios de bem-estar animal.
 
Busca-se, ainda, a manutenção em níveis toleráveis das populações de fitoparasitas e de ervas espontâneas, sem o emprego de técnicas que representem impactos negativos de natureza ecotoxicológica, o que é feito, por exemplo, a partir da utilização de princípios do controle biológico de pragas. Além disso, os desenhos das áreas de produção buscam valorizar a presença de espécies arbustivas e arbóreas como elementos funcionais de diversificação da paisagem, que incluem a implantação de sistemas agroflorestais. 
 
Mestrado em agricultura orgânica
 
A Fazendinha Agroecológica Km 47 engloba ainda o Centro de Formação em Agroecologia e Agricultura Orgânica (CFAAO), que busca consolidar experiências educativas desenvolvidas com base no SIPA, dando suporte a atividades de formação para instituições de extensão rural, entidades da agricultura familiar, instituições públicas, estudantes e técnicos de todo o País. Engloba, ainda, o Programa de Pós-Graduação em Agricultura Orgânica (PPGAO) em nível de mestrado profissional, oferecido em parceria com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

CONHEÇA MAIS - VIDEO YOUTUBE
https://www.youtube.com/watch?v=ysD2WFuz8WE



ACESSE:  https://www.embrapa.br/agrobiologia/fazendinha-agroecologica

terça-feira, 7 de abril de 2015

Rede Ecovida de Agroecologia

Rede Ecovida de Agroecologia surge no fim da década de 90, a partir da integração de dezenas de organizações que têm na promoção da agroecologia seu objetivo central

A Rede Ecovida de Agroecologia é um espaço de articulação entre agricultores familiares e suas organizações, organizações de assessoria e pessoas envolvidas e simpáticas com a produção, o processamento, a comercialização e o consumo de alimentos ecológicos.

Para a Rede Ecovida de Agroecologia o processo de transição agroecológica deve
ter como ponto de partida a superação da capacidade da propriedade familiar em produzir seus próprios alimentos. A partir dessa premissa é que se devem construir as estratégias de vinculação dos agricultores
com o mercado, sempre buscando meios que, por um lado, estimulem e consolidem o processo de transição
e, por outro disponibilizem à população urbana produtos de qualidade a preços acessíveis.

ALGUNS NÚMEROS DA REDE
Atualmente, a Rede Ecovida conta com 23 núcleos regionais, abrangendo em torno de 170 municípios. Seu trabalho congrega, aproximadamente, 200 grupos de agricultores, 20 ONGs e 10 cooperativas de consumidores. Em toda a área de atuação da Ecovida, são mais de 100 feiras livres ecológicas e outras formas de comercialização.

COMO A REDE FUNCIONA?
O funcionamento da Rede é descentralizado e está baseado na criação de núcleos regionais. O núcleo reúne membros de uma região com características semelhantes que facilita a troca de informações e a certificação participativa.

Acessem:  http://www.ecovida.org.br/a-rede/

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Número de produtores orgânicos cresce 51,7% em um ano

Cresceu a adesão dos produtores brasileiros ao mercado de orgânico, que, além de alimentos mais saudáveis, promove a conservação e a recomposição dos ecossistemas.  Entre janeiro de 2014 e janeiro de 2015, a quantidade de agricultores que optaram pela produção orgânica passou de 6.719 para 10.194, um aumento de cerca de 51,7%. As regiões onde há mais produtores orgânicos são o Nordeste, com pouco mais de 4 mil, seguido do Sul (2.865) e Sudeste (2.333).

As Unidades de Produção também tiveram um aumento significativo. Passaram de 10.064 em janeiro de 2014 para 13.323 em janeiro deste ano, ou seja, um acréscimo de 32%. É importante ressaltar que cada produtor orgânico pode ter mais de uma unidade de produção.  Por região, o Nordeste é o que mais possui unidades de produção, com 5.228, seguido do Sul (3.378) e do Sudeste (2.228). No Norte, foram contabilizadas 1.337 unidades de produção e no Centro-Oeste, 592.

A área total de produção orgânica no Brasil já chega a quase 750 mil hectares, sendo o Sudeste a região com maior área produtiva, chegando a 333 mil hectares. Em seguida, estão as regiões Norte (158 mil hectares), Nordeste (118,4 mil hectares), Centro-Oeste (101,8 mil hectares) e Sul, com 37,6 mil hectares.

Incentivo aos orgânicos
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por meio da Coordenação de Agroecologia da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo (SDC), realiza campanhas anuais, como a Semana dos Orgânicos, a fim de reforçar para a população, principalmente a urbana, que os sistemas de produção orgânica se baseiam em princípios da agroecologia. De acordo com o coordenador  da área, Rogério Dias, esses sistemas buscam viabilizar a produção de alimentos e outros produtos de forma mais harmônica com a natureza e mais saudáveis. O sistema da produção ainda é baseado em princípios de justiça social em todos os segmentos da rede.

O que é?

A produção orgânica tem por base sistemas de produção que adotam práticas como o uso saudável e responsável do solo, da água, do ar e da biodiversidade. Assim, reduz a contaminação e o desperdício desses elementos. O processo aplica conhecimentos da ecologia no manejo da unidade de produção, que é manejada de forma integrado com a flora e a fauna.
Segundo Dias, esse modo de produção assegura o fornecimento de alimentos saudáveis, mais saborosos e de maior durabilidade. “Não são utilizadas práticas e substâncias que possam colocar em risco a saúde de quem produz e de quem consome, nem causar impactos negativos sobre o meio ambiente”, afirmou. Outro ponto que ele destaca é a importância que a agricultura orgânica dá às relações sociais e de trabalho, nas quais toda a cadeia produtriva, da produção ao consumo, têm que ser considerada com a mesma atenção, buscando sempre a melhoria da qualidade de vida para todos.

Dias explicou também que, por esse conjunto de fatores, a agricultura orgânica dá mais sustentabilidade à produção agropecuária, em um número cada vez maior de regiões do mundo. "A produção orgânica amplia a capacidade dos espaços produtivos de cumprirem suas funções ecossistêmicas, tão importantes para todos os habitantes do Planeta, o que contribui para o enfrentamento de problemas cada vez mais visíveis por todos, como o aquecimento global e a escassez de água", avaliou.

 

Por Um Brasil Agroecológico

O Plano Plurianual (PPA) é um instrumento de planejamento estratégico do Estado brasileiro essencial para o cumprimento de seu papel como indutor das dinâmicas de desenvolvimento econômico e social. O momento de sua elaboração é uma grande oportunidade para a revisão crítica das políticas públicas e dos rumos do desenvolvimento nacional. A experiência brasileira dos últimos 12 anos demonstra de forma inequívoca que a retomada da intervenção do Estado na orientação do desenvolvimento foi condição essencial para o enfrentamento da fome, da pobreza e de crônicas desigualdades sociais que marcam a história do país.
A elaboração do PPA 2016-2019 se faz em um contexto de grandes desafios. Por um lado, estamos diante da necessidade de assegurar as conquistas alcançadas nesse período recente, conquistas essas permanentemente ameaçadas por ofensivas políticas de grupos alinhados com a agenda neoliberal. Por outro, vivemos a necessidade de ampliar e aprofundar essas conquistas. Nesse momento, isso implica a realização de reformas estruturais capazes de desativar os mecanismos políticos e econômicos responsáveis pela reprodução das desigualdades sociais, pela deterioração da saúde coletiva, pela degradação ambiental e pela escalada de violência em nossa sociedade.
A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO) é uma conquista de movimentos sociais dos campos, das águas e das florestas. Instituída por decreto presidencial em agosto de 2012, a PNAPO deve ser considerada um componente fundamental para orientação de mudanças estruturais necessárias para a democratização e a sustentabilidade da sociedade brasileira. O enfoque agroecológico reconhece e apóia o desenvolvimento de múltiplas funções positivas exercidas por produtores rurais, em especial pela agricultura familiar camponesa e indígena e pelos povos e comunidades tradicionais. Compreendida como enfoque científico e como prática social, a agroecologia é portadora de conceitos e métodos destinados a reestruturar os sistemas agroalimentares, proporcionando a conjugação do uso sustentável dos bens da natureza, a produção de alimentos saudáveis em quantidade, qualidade e diversidade, a distribuição justa e equitativa das riquezas sociais com base nos fundamentos da economia solidária, o estabelecimento de relações mais equilibradas entre o mundo rural e urbano e a preservação do patrimônio cultural.
A promoção da agroecologia torna-se cada vez mais urgente e necessária diante do atual contexto de agravamento de crises interconectadas causadas por um modelo de desenvolvimento econômico centrado na produção em larga escala de commodities agrícolas e minerais. Estruturado sobre a injustiça ambiental, os processos de concentração de renda e a desigualdade entre homens e mulheres, esse modelo é responsável por um conjunto articulado de efeitos negativos para a sociedade, dentre os quais se destacam: o avanço desmedido do desmatamento; a degradação dos solos; a perda acelerada da biodiversidade nativa e cultivada; a crescente dependência da agricultura a combustíveis fósseis e a outros recursos naturais não renováveis; o aumento da vulnerabilidade aos efeitos das mudanças climáticas; a crise hídrica nos campos e nas cidades; a contaminação ambiental e os agravos à saúde coletiva pelo crescente uso de agrotóxicos; a exposição desnecessária da população aos riscos associados ao consumo de transgênicos; e o empobrecimento das dietas com a generalização do consumo de alimentos ultraprocessados responsáveis pelo aumento expressivo de doenças crônicas não-transmissíveis associadas à má nutrição. Também figuram como conseqüências diretas desse modelo a grilagem e a concentração das terras, a expropriação da agricultura familiar camponesa, dos povos e comunidades tradicionais e dos povos indígenas de seus territórios de pleno direito e o recrudescimento da violência no campo.
Centrado em monoculturas para exportação, esse modelo tem gerado uma necessidade crescente de importação de alimentos e maior dependência externa da agricultura brasileira a insumos e equipamentos, bem como a concentração da pauta de exportação em poucas commodities com baixo valor agregado e sujeitas a flutuações de preço nos mercados internacionais. Portanto, além dos efeitos sociais e ambientais negativos, o modelo agroexportador compromete a soberania alimentar e tecnológica do país e deixa a economia nacional em situação de alta vulnerabilidade.
O atrelamento subordinado de parcelas expressivas da agricultura familiar a esse modelo também vem provocando crescente vulnerabilidade econômica, social e ambiental da categoria. Esse processo, que se caracteriza pela especialização produtiva e a crescente dependência da agricultura familiar às corporações agroindustriais e aos mercados financeiros, tem bloqueado a expressão de seus potenciais ambientais, econômicos e socioculturais em benefício do conjunto da sociedade. A saída de jovens do campo, comprometendo o futuro da agricultura familiar e das comunidades tradicionais, é um dos indicadores mais visíveis dessa vulnerabilidade.
A construção de outros padrões de desenvolvimento rural apresenta-se, portanto, como um dos desafios centrais para a sociedade brasileira no presente momento. Isso pressupõe a democratização do acesso à terra e às águas, a garantia dos direitos territoriais de povos e comunidades tradicionais e dos povos indígenas e a reorientação das políticas públicas que incidem diretamente no atendimento de necessidades fundamentais de toda a população, como é o caso do direito à alimentação adequada e saudável. A agroecologia tem um papel estratégico a cumprir nessa construção. Nesse sentido, a proposta agroecológica deve ser incorporada como enfoque orientador do conjunto das iniciativas de órgãos e ministérios integrados à PNAPO.
A recente experiência histórica no Brasil revela a abrangência nacional que assumem as iniciativas de promoção da agroecologia em todos os biomas brasileiros, revalorizando o diversificado patrimônio de saberes e práticas de gestão social dos bens da natureza e reafirmando o papel protagonista da produção de base familiar como provedora de alimentos para a sociedade.
Essa constatação do papel positivo da agroecologia já não se limita aos diferentes segmentos sociais e políticos que nos últimos 30 anos vêm construindo e defendendo o enfoque agroecológico e a expansão da produção orgânica. Essa opção estratégica vem sendo cada vez mais compreendida e assumida por crescentes segmentos sociais que encontram também na agroecologia respostas concretas para seus desafios imediatos, como a superação da miséria, mas, também, para a concretização dos anseios da população por uma alimentação saudável, pela saúde coletiva, pela conservação dos bens naturais e das paisagens rurais, pela preservação do patrimônio cultural, pela geração de trabalho digno com distribuição de renda, pela superação das desigualdades entre homens e mulheres, pela geração de oportunidades para jovens ao pleno exercício da cidadania política e econômica e, finalmente, pelo desenvolvimento de uma cultura de paz nas cidades, no campo, na floresta, no mar e nos rios. Esses múltiplos benefícios têm proporcionado o encontro do movimento pela agroecologia com outros movimentos sociais que militam pela democratização e pela sustentabilidade da sociedade tais como a soberania e segurança alimentar e nutricional, a saúde coletiva, a justiça ambiental, povos indígenas e povos e comunidades tradicionais, a economia solidária e os movimentos feministas.
As iniciativas da sociedade na promoção da agroecologia dão rápidas respostas positivas sempre que contam com estímulos de políticas públicas. Essa é a razão pela qual a agroecologia vem sendo defendida em diferentes espaços oficiais de participação social, como conferências, conselhos, comissões etc. Também no âmbito internacional, a agroecologia vem sendo proposta com cada vez maior veemência por movimentos e organizações da sociedade civil, por instituições acadêmicas, por governos de outros países e por órgãos vinculados a Organização das Nações Unidas (ONU).
A criação e implementação do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, no âmbito da PNAPO, proporcionaram um salto qualitativo na relação sociedade-Estado, dando maior coerência entre políticas e programas geridos por diferentes ministérios e órgãos públicos. Frente a essa evolução positiva e aos críticos desafios que se colocam no horizonte da sociedade, a CNAPO compreende que a agroecologia deve ser considerada diretriz estratégica no PPA 2016-2019. Dessa forma, este instrumento de planejamento estratégico das ações do poder executivo federal representará efetivamente um novo avanço na institucionalização da agroecologia no Estado, bem como na mobilização da sociedade em defesa dessa perspectiva para o desenvolvimento nacional.

Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica – CNAPO.
Brasília/DF, 18 de março de 2015.

Sementes crioulas: verdadeiros patrimônios genéticos

Agricultoras e agricultores familiares de todo Brasil contribuem de diversas maneiras para a preservação da agrobiodiversidade. Uma das prin...